O TROPEIRO E AS TROPAS
Antigamente gastavam – se semanas numa viagem. Como não havia hospedarias, os viajantes alojavam – se em fazendas, onde eram bem tratados, nada pagando, apenas alegrando o dono da casa com a visita e as notícias. Fazia parte das casas o “quarto de hóspedes”.
Pelas estradas também transitavam as tropas, que forma de enorme importância, por terem sido, durante muito tempo, os únicos meios de transporte e comércio para maiores distâncias de difícil acesso.
Um lote era formado por sete burros. Á frente ia a “madrinha d atropa”, um animal com arreios mais vistosos e pintados de cores vivas com enfeites coloridos e guizos, que faziam um barulho alegre que se ouvia ao longe, servindo como aviso ao povo e juntando os animais extraviados da tropa. Couros crus cobriam a carga protegendo – a da chuva. A chegada da tropa nos lugarejos constituía um reboliço, era motivo de ajuntamento, todos acorriam às compras ou às novidades. Os arreios eram variados e em grande quantidade, muito complicados, exigiam técnica na colocação. O chefe da tropa ia na frente, a cavalo. Todos os homens viajavam armados com grandes facões e de chapéu. Nas pausas das viagens davam milho aos animais num pequeno saco ou embornal, suspenso ao pescoço.
Nas costas dos animais transportaram - se milhões de arrobas de café, açúcar, aguardente, legumes, galinhas, toucinho, carnes, queijo, algodão, chá, ouro, diamante, pedras preciosas, etc. Um fazendeiro não dispensava a tropa, que ficava cara: preço dos animais, milho, pasto, couros, solas, arreios, instrumentos, empregados.
Os tropeiros tinham grande responsabilidade pela carga, que não podia se estragar nem extraviar. Davam recibo das mercadorias recebidas para transportar. As tropas levavam e traziam mercadorias e exerceram grande influência no desenvolvimento não só de Minas como e todo o Brasil: promoveram a economia, a colonização, a sociabilidade, a estabilidade das famílias. Antes das tropas, o índio e depois o escravo eram como animais de carga, havendo a expressão “índio de carga”.
Os tropeiros exerceram grande influência econômica e social no país. Iam do interior aos portos marítimos e fluviais, levando cargas e trazendo outras e ainda fazendo comércio pelos caminhos. Viajavam mais no tempo das secas. Uma viagem durava até seis meses. Muitas cidades começaram no rancho das tropas.
Os tropeiros precisavam cuidar de tudo, sendo previdentes e atentos. Sofriam sérias dificuldades: caminhos precários, mau tempo, assaltantes, travessia de rios, atoleiros, serras íngremes. Tinham que tratar diariamente dos animais, dar – lhes água e pasto, evitar e combater doenças e ervas venenosas; alguns animais extraviavam – se e não se podia perder nenhum, sua aquisição era difícil e o preço muito alto.
A profissão de tropeiro deu origem a outras:
Ø Rancheiro, dono do rancho ou alojamento para os tropeiros (as tropas levavam sua própria cozinha e pagavam milho e pasto para os animais);
Ø Ferrador, que pregava ferraduras nos animais da tropa;
Ø Peão, para domar os animais.
O rancho consistia num longo terreiro coberto, ás vezes com uma varanda na frente, feita com pilastras de madeira ou tijolos; alguns possuíam cômodos internos, feitos de adobe ou taipas. Acontecia de encontrarem – se duas ou mais tropas no mesmo rancho. Cada uma tinha sua própria cozinha. Os tropeiros descarregavam os animais, tratavam e soltavam no pasto. Faziam fogueira, pendurando num tripé a chaleira. Depois de tudo pronto, os homens se reuniam, conversavam, contando suas viagens, venturas e desventuras, cantavam e tocavam violão.
Depois do rancho surgiu a “venda”, onde se vendia de tudo e dava – se hospedagem gratuita, cobrando – se apenas o milho para as tropas e as mercadorias necessárias. Nas vendas o ambiente já não era mais tranquilo nem íntimo como nos ranchos. Surgiam discussões e brigas, na maioria provocadas por bebidas.
Veio após a estalagem ou hospedaria e o hotel, parecido com a hospedaria. Forneciam cama e comida aos viajantes e seus empregados ou “camaradas”, tendo pasto para os animais.
Em Itamarandiba, a hospedagem de dona Virgínia Guimarães era onde os viajantes e tropeiros de outras cidades se abrigavam. O alojamento ficava na Rua Tiradentes, onde hoje estão as ruínas de um luxuoso casarão de dois andares e o pasto para os animais era localizado onde hoje é o antigo prédio da Escola Estadual São João Batista, ou Ginásio Francisco Badaró, ambas as propriedades sendo particulares.
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